“Por donde entramos, Jandirinha?”

Chegou Fernandinho, meu companheiro nessa aventura científica latinoamericana em Boston. Na verdade, é Sommerville. E na verdade, América Latina nesse caso se resume a Brasil, México, Argentina e El Salvador. Mas a aventura já se anunciava desde quando começamos a planejar essa viagem.

Primeiro, fizeram questão que viéssemos em julho. Definimos a semana de acordo com nossas agendas, eu e Fernando, e informamos as datas ideais. Disseram: OK, vamos ver as passagens. E um silêncio sepulcral se seguiu entre esse momento e o nosso desespero. No meio disso, mandaram perguntar se tínhamos licença internacional para dirigir automóveis, porque estavam tentando achar uma hospedagem pra gente. Ferando me perguntou: ei, Jandirinha, dónde piensan mandarnos? Uma semana antes do dia da viagem mandei uma mensagem assim: NEWS, PLEASE!!?? Aí a passagem já tava emitida, o hotel já estava reservado – em Waltham – e um carro com GPS já nos esperava no aeroporto de Boston. As coisas pareciam se encaixar, mas ainda assim tínhamos uma pulga atrás da orelha que nos perguntava coisas extremas do tipo: será que é gente do outro lado da corrente que quer sequestrar ativistas latino-americanos para roubar-lhes o cérebro?

Ah, vai… trata-se da Gringolândia, né gente, terra fadada a ser atacada por aliens, ser alvo de meteoros, é por onde sempre começa o fim do mundo… essas coisas.

Depois da minha saga pessoal regada a amartia para chegar do aeroporto de Boston até o hotel em Waltham, fiquei esperando meu companheiro de viagem, que chegou por volta das 9 da noite. Exausto e faminto.

Linda, a recepcionista. O nome dela é Linda. Como euzinha cheguei querendo matar um leão pra comer, e tomar toda a água fresca do planeta, perguntei se no hotel tinha cozinha, lanchonete, conveniência, qualquer coisa. A única coisa que tem são as tais máquinas de chips e coca-cola. Bleargh. Mas tem um hotel Westin bem pomposo aqui do lado, enorme, que conta com um restaurante que pode atender uma emergência – como era o caso. Esperei Fernando chegar e lá fomos nós.

Encontramos umas portas de vidro e nos metemos. Não tinha uma recepção, só um monte de sala de conferência. Entramos, corredor adentro, uma e outra sala, mais uma porta, nada de aparecer alguém. Estranho, muito estranho. Tudo lá abandonado, aceso… Saímos para dar a volta, afinal a entrada deve ser ali de frente pra pista. Praticamente demos a volta no hotel e nada de ter um acesso, calçadinha, trilha no gramado, sinal de entrada social, nada. Tinha lá em cima umas coisas que pareciam entradas. Então decidimos subir o gramado e meter-nos ali pelo meio daqueles arbustos, estão vendo? Pois é, tinha uns banquinhos tipo fumódromo (do centro de convenções, deve ser), uma piscina com gente dentro, mas a porta pra piscina estava fechada. Ao lado tinha uma outra porta, aberta, entramos. Saímos de novo no centro de convenções. Ah, fomos nos metendo por aqui, ali, até que chegamos a uns elevadores e pelo menos ali indicava o andar do restaurante. Ufa!

Mesa para dois? Sim. Sentamos. Vimos que era possível sentar do lado de fora, o que para duas pessoas tabagistas faz toda a diferença. Na América do Sul. Aqui em Masachussetts não faz nenhuma. Não é permitido fumar em nenhum restaurante que entrei até agora, só do lado de fora. E no caso do hotel, do lado de fora era lá na rua, saindo pela porta – aquela que ainda não sabíamos onde era. Tá, a gente pode esperar. E já que não podíamos fumar ali fora com os mosquitos, achamos melhor deixar os mosquitos se divertirem com o reino vegetal e voltarmos lá pra dentro, com o ar condicionado.

Na mesa ao lado da que o garçom – um costarriquenho cafuçú delícia – já tinha arrumado pra gente quando chegamos, estava sentado um senhor sozinho. Ouviu a “charla” hispânica e puxou conversa. É peruano, mas mora aqui nos Istêites desde bem pequeno. Em Orlando. Trabalha para uma empresa que está abrindo escritório por aqui e veio dar treinamento. Eu, que AMO o Peru, engatei no papo e lá pelas tantas perguntei se a migração da família tinha relação com o terrorismo dos anos 80 e 90. Ele se limitou a lamentar que o terrorismo agora esteja voltando, com esses dois últimos presidentes que trataram terroristas “con mucho cariño” (??) e que o Peru precisa de alguém como Fujimori.

FUJIMORI???

Foi a única reação que pude ter. Diz o Fernandinho que eu estava comendo, olhando o prato, e que nessa hora virei pra trás e que praticamente todo o restaurante (nós e a outra mesa ocupada…) ouviu meu espanto. Bem, ele fez brevemente sua defesa e foi o suficiente para não lho darmos mais nenhuma atenção.

O salmão com capim-limão e legumes estava bom. O hambúrguer do Fernandinho também estava gostoso. Tomamos nossa Estela Artois draft e voltamos pra dormir. O fujimorista saiu antes de nós.

Dia seguinte, no café da manhã, adivinha quem de diz, sorridente, um BOM DIA! bem à brasileira? Ai, meus sais… Ele está hospedado no mesmo hotel que a gente. A cada chegada ou saída lá vem ele tentando ser simpático. Fazer o quê? Continuo amando o Peru, mas nunca mais voltamos ao Westin e fugimos do fujimorista todas as outras vezes que o encontramos.

Moral da história: preciso controlar mais meus impulsos, já que nos próximos meses vou ouvir muita opinião contrária à minha.

Próximo capítulo: Todo domingo havia banda no coreto da pracinha de Waltham. No caso, era terça-feira.

“É isso aí…”, Amartia, ou o início de uma aventura científica latinoamericana em Boston

Senta, que lá vem história.

É isso aí. Eu, viajante lunática pelo mundo, nunca tinha pousado meus pezinhos em terras norte-americanas. Nem muito ao norte da América do Sul, pra dizer a verdade. Nem mais ao norte da América Latina. Norte, até agora, tinha sido Europa. Nunca desejei visitar os Estados Unidos, mas sempre quis saber como era passear em Nova Iorque – que nem considero uma cidade só americana, assim, sem conhecer.

Pois é, me convidaram. Na verdade, tive que vir aqui por um projeto de pesquisa em que estou trabalhando, que inclui uma semana de treinamento e instrução. Em Boston. Nada parecido a Nova Iorque – espero!!

Bilhete emitido, viagem marcada para sábado à noite, escala em Atlanta, Boston ao meio-dia. Tudo acertado, feira feita, comida estocada para a semana de quem fica, MPB tocando no rádio, Ana Carolina com seus agudinhos enjoativos, e eu “por que ela faz isso com o samba???”, diarista devidamente contactada e instruida a vir pôr ordem no que deixei acumular em semanas de trabalho intensivo, mala verde limão orgulhosamente compacta e leve pronta, materiais de trabalho na mochila de rodinhas, carteira, batom, passaporte (e só!!) na mochila das costas, táxi, aeroporto internacional Antônio Carlos Jobim. Fila da Delta. Ana Carolina na fila. É isso aí… Ana Carolina ao vivo e a cores. Vamos curtir uma dyke-jornada. OK, desde que não me cante – no ouvido. Pode me cantar e até Betty Faria, mas sem solfejo, pode ser? Fila para verificação de passaporte, aquelas filas de gente que parecem gado indo pro matadouro, com cara de “poker”, vai Ana Carolina, vem Ana Carolina, faço cara de “poker” pro outro lado, medo dela, gente… Imaginem: É isso aíiiiiiiiiammmmm… no seu ouvido. Ui.

Passo no free-shop para repor um lápis de olho preto que desapareceu da mala na última viagem. A Delta chama, lá vou eu pra fila de entrar no avião. De repente, ao longe: Jan… Jan?? Jandira!! Opa, é comigo. É a Mme. Lou, que já vai de novo pros States. Legal, delícia de companhia a bordo dessa jeringonça estranha de bancos azuis de um corino velho e brega que é o avião da Delta. Mais: não tem televisãozinha individual!!! Tive que assitir ao Eddie Murphy em 1000 palavras. Já viram? Não percam a chance de ver algo melhor! Well, uma companhia gringa, indo pra Gringolândia, tá bem, não tem como esperar muita coisa. Meu companheiro de aventura científica latinoamericana em Boston, Fernandinho, já tinha me avisado que chegaria com 8 horas de atraso devido a um problema técnico na aeronave que o levaria ao meu encontro. Eu, com 120 reais no bolso que já tinha esquecido de trocar por dólares antes de entrar pra sala de embarque, pensei que não haveria nada mais a fazer do que esperar por ele para irmos ao hotel. Polianísticamente, planejei dormir o vôo inteiro e trabalhar durante essas 8 horas de aeroporto. E pros momentos acordada, a companhia de Mme. Lou. Só não teve momentos acordada, dormi o vôo inteiro.

OITO horas num aeroporto em Boston? Pra uma aquariana ansiosa? Imagina!! Nem pensar.

Conexão em Atlanta tranquila, mais 3 horinhas de sono – ainda bem! – aterrisagem perfeita, casa de câmbio já na saída do desembarque – opa! – 120 reais mais 30 liras turcas que sobraram nos bolsos da viagem a Istambul, 51 dólares, suficiente para transporte urbano até o hotel, né! Ihuuuuu!! Mala. Cadê minha mala verde limão que deveria estar aqui? Ah… ficou para vir no próximo vôo de Atlanta, que chega em meia hora. Tranquilo, vou fumar um cigarro e me enteirar de como faço pra usar o transporte urbano coletivo. Silver line grátis do aeroporto até a South Station, dali a Red line até Central Square Station, dali o ônibus 70 até Main Street opp. Cutting Lane, Walthan, Massachusetts, que é perto de onde o hotel fica, uma caminhadinha, malas de rodinha, ok. Por isso é que nos alugaram um carro para os dias aqui, não havia vaga nos hotéis mais próximos ao escritório.

Pá! Páquê serve o iPhone com roaming internacional, néam! Liga, ativa, maps! Tudo certo, lá vou eu. Silver line, red line (também grátis, porque é continuação da silver!), Central Square, fome, Starbucks, má escolha de um café quente no calor do verão daqui, um sol escaldante, identifica onde fica Green street com Magazine street pela vidraça da Starbucks, ônibus 70, Main street. Main street. Main street. Uma gravação avisa, quase que a cada 100 metros, o nome da parada. E eu só pensava em Main street. Main street. A voz do ônibus disse: Main street com sei lá o que. Não tive dúvida, apertei a fita amarela que fica pregada nas paredes do veículo, “stop requested”, agarrei minha mochila e puf puf puf, desci. Olhei pros lados, ativei o maps no iPhone e puuuuuuuutz… longe bagaray. Tá, espero o próximo ônibus 70 e vou até o ponto certo da tal Main street que não era aquela. É que eu ainda não estava em Waltham. Eu, a mochila com passaporte, batom, carteira, a mochila com laptop e materiais de trabalho e… cadê minha mala verde limão orgulhosamente compacta com TODAS as minhas roupas que estava aqui?

É isso aí… esqueci dentro do ônibus. Tive sorte que, na hora de pagar, como tinha mais gente entrando e eu não queria atrasar o ônibus, saquei da carteira uma nota de dez e perguntei ao motorista de podia pagar em dinheiro – tem lugares, como em Buenos Aires, em que você só paga com o cartão ou com moedas. Eu até tinha moedas, mas imaginem aí com duas malas, uma mochila, ficar contando moedas que eu não conheço até chegar a 2 dólares. O condutor então me indicou onde enfiar a nota de dez e me disse: agora vai sair um tíquete com crédito no valor do troco que você pode usar para ônibus, metrô, trem, tudo. Olhei pra ele com cara de “ah, tá”, lá estava em meu poder um tíquete de 8 dólares que eu nunca mais ia usar. Pelo menos eu pensava assim. Pensei logo em trocar por alguém no escritório. A SORTE GRANDE foi esse tíquete, que tinha o número de telefone da companhia de ônibus, e que eu ainda contava com 10% de bateria no iPhone – quem tem sabe como é desesperador estar na rua com 10% de bateria no iPhone, significa que vai morrer em instantes… Ligay. Contem pra moça lá o meu drama. Ela me passou pro Benneton, responsável pelo achados e perdidos. Meu amigo Benneton pegou meu telefone e disse que me ligaria de volta. Esperei o próximo 70, entrei, contei meu drama ao motorista, que se solidarizou tanto que até esqueceu de parar no ponto que o povo havia solicitado. Gritaria geral no ônibus: quase ouvi “ô piloto, paraê ô!” Normal, aqui os motoras são mais educadinhos, mas usuário é usuário em qualquer lugar. E eu só pensava: Waltham, Main street. Waltham, Main street.

Vi a placa que dizia “a partir daqui, Waltham”, e quando a voz disse Main street, desci com minha meia-bagagem. Meu celular já descarregando, decidi ir pro hotel e de lá ver como recuperar a mala. De repente, voltar pra linha do ônibus e esperar que aquele primeiro ônibus passe de novo. O Benneton nada de me ligar. Entrei num salão de beleza e perguntei: onde fica a 4th street? Me indicaram caminhar no caminho oposto do que eu tinha de memória do mapa do iPhone, mas é isso aí, sou perdida, deve ser pra lá mesmo. Depois vc anda um pouco, vai chegar na rotatória, segue, a próxima deve ser ela. Fui. Uns 30 minutos depois, a rotatória. Uns 5 minutos depois, a Forest avenue. Não quis acreditar na má interpretação do meu “fourth” para ter se transformado em Forest… segui. Segui. Em frente. iPhone descarregado. Nem uma viv’alma no caminho. De repente, um campo de futebol ou algo do tipo com um monte de garotas. Um prédio lá do outro lado parecido com o da foto do Extended Stay, reservado pra mim. Torci muuuuuito pra ter chegado. Ha! Que nada!! Chorei. Engoli o choro. Cansada pra porra, um calor desgraçado, a calça jeans já colada na pele de tanto suor, a camisa de manga 3/4 já se empapando, o tênis cozinhando meus pés…

É isso aí: como a gente achou que ia ser, a vida tão simples é boa… quase sempre (simples). É isso aí: os passos vão pelas ruas, ninguém reparou na perdida aqui, a vida sempre continua. É isso aí: há quem acredita em milagres, há quem cometa maldades, e há a Jandira que se perde em todos os lugares onde vai. É isso aí: eu não sei me oooooooorientaaaaaaaar, eu não vou me oooooorientaaaarrrrr, não consigo me ooooorientaaaar… eu só me canso de andaaaaaarrr…

Me meti pra dentro de uma cancela de algo que se parecia uma escola ou uma residência estudantil de campo, sentei na grama debaixo de uma árvore, abri o computador, liguei o telefone na carga e esperei. Liguei pro Benneton. Olha, estou perdida, não sei onde estou, é perto da Forest street. Ele me contou que o ônibus não passava nem perto dali. Perguntei – porque não me custava dinheiro, eu acho, já que uso o infinity da Tim e me prometem um “ilimitado sem limites” – se ele não tinha um número de táxi em Waltham pra me informar. Ele lamentou, não podia me ajudar. E se eu não conseguisse pegar a mala no ônibus ainda naquele dia, teria que ir buscá-la em Charleston, Massachusetts. Sabe onde fica? Nem eu. Perguntei e ele me disse que não estava exatamente perto de Waltham. Você tinha colocado aquela calcinha e aquela camiseta na bolsa de mão para o caso de algum imprevisto? Pois é… não né. O bom é que nesse momento a música-chiclete na minha cabeça deixou de ser o “é isso aí” da Ana Carolina – já não aguentava mais – para o “Charleston, Charleston, só quem dança sabe o que é boooooommmm” da Simony com o Balão Mágico. Eu achei vantagem.

O que não tem remédio, remediado está. E o Ronald tinha me ensinado o conceito de “amartia”, e eu fiquei lembrando muito dele. Amartia é o conceito primeiro do pecado, segundo o qual se você tem que tomar uma decisão e opta pela decisão que não foi a mais adequada e ela te traz problemas ou te dá mais trabalho, esse é o preço da decisão impensada, mal planejada ou mal tomada. Pois eu estava pagando o preço por não esperar meu colega que ia chegar mais tarde, sozinho, cansado e ainda ia ter que dirigir sozinho um carro alugado nos EUA até o hotel que a gente não tinha ideia de onde era. Pois bem, agora me restava voltar pro lugar de onde eu saltei do ônibus e esperar que o carro nr. 379 passasse de novo por ali com minha mala, que o Benneton já tinha me avisado que ainda estava lá, aos cuidados do condutor. Puf puf puf puf puf… lá vou eu. Outra coisa que do avião não parecia assim, mas todos os caminhos aqui levam… pra cima. Eita lugar pra ter umas ladeiras não muito íngremes mas longas! E lá se iam já umas duas horas de perdição.

Passou um táxi!!!!!!! Pedi que me deixasse ali na Main street, perto daquela praça grande ali pra direita. Ele nem me cobrou a corrida, de tão perto – de carro, claro. A pé e cansada, uma eternidade de distância.”Bennet, estou aqui esperando o busão!!! avisa lá o condutor!” Entrei no Café da esquina, comprei um chá, paguei, peguei, tudo isso praticamente sem olhar na cara do povo que tava me atendendo, de olho lá fora se o 70 vinha. Ui, que refresco bom aquele chá preto CHEIO de gelo!! Perguntei por ali pra onde ficava a tal F-O-U-R-T-H street, e um senhor me disse que a pé não ia rolar. Eu disse que pegaria um ônibus até lá mais na frente (sim, eu havia descido no ponto errado de novo!!!!), e aí ele fez uma cara de “é, pode ser”, e eu confiei que dava pra ser. Assim como no Rio de Janeiro, se da primeira vez que errei o ponto tive que esperar uns 12 minutos pra pegar o próximo 70, agora lá vinham dois emparelhados. E aí, será que o 379 vai parar pra mim, ou vai passar por fora como na Rio Branco e levar embora minha mala verde limão orgulhosamente compacta pra Charleston??? Corri, me fiz visível, pedi pro tio do 379 parar, e ufa! lá estava ela, verde, radiante, me esperando.

Avisei ao condutor que seguiria com ele e lá fomos nós. Quando a voz finalmente disse “Cutting Lane”, eu desci. iPhone maps, entre ali à direita e ande, minha filha… ande… Tá, o que é um peido pra quem já tá toda cagada, né? As placas diziam qualquer outra coisa, menos 4th Ave. Perguntei no posto de gasolina, a frentista disse que era por ali mesmo. Soooooobe, deeeeesce, deeeeesce de novo, vira pra direita, vira pra esquerda, aaaaanda, soooool na moleira… anda, anda, anda, passa carro pra lá, pra cá, e anda, anda, anda, as placas começam a dizer SEGUNDA avenida, e eu não acredito. Preciso dizer que o iPhone já tinha descarregado de novo? E eu, sozinha ali no meio daquele monte de pista, carro e prédio comercial, ia parar e abrir o computador pra carregar o equipamento de novo? Nem pensar, minha avó mandou tomar cuidado. Já tinha decidido que ia andar até achar um táxi, seja lá o que isso significasse em termos de milhares de passos. E de preço. Ia pedir pra recepcionista do hotel pagar pra mim na maior cara dura. Foda-se.

Anda, anda, anda, um estacionamento mega e lá atrás um prédio grande escrito “Diplomat Suites”. Nada que ver com “Extended Stay”, mas entrei no estacionamento, que na verdade era de um supermercado, o qual estava mais perto do que o tal Diplomat pra pedir informação. Fui lá. Tinha dois mocinhos saindo, com uniforme do lugar, pedi ajuda. Até água eles me deram, os bixim. Tão fofos. Eu tava no caminho certo, eu só não tinha me dado conta que o mapa dizia: caminhe 57 minutos do ponto do ônibus até o hotel. E que no meio do caminho havia, ainda por cima, uma rodovia. Então que do mercado pro hotel faltava bem pouco, mas mesmo assim ainda pedi pro rapaz me conseguir um táxi. Ele não conseguiu. Domingo, 6 da tarde, numa zona sem movimento, pra um trajeto de menos de 10 minutos? Rá! Depois de ter certeza de qual era o caminho, tomei mais um pouco de coragem e fui.

Sabe a BR 110? Sabe quando tem retorno pra pegar outra BR, que no máximo tem um acostamento, e nem pensar em calçada, que ali não é pra pedestre? Pois é. E eu era uma pedestre com uma mochila nas costas e carregando duas coisas com rodinhas, na beira da rodovia. É que tem um deus só pras perdidas, um só pras bêbadas e um só pras crianças, só pode ser. FINALMENTE, DA-DAM!!, a 3rd Ave., que leva à 4th Ave.!!

Tem alguma dúvida que todas elas levavam pra cima?
Cheguei no Extended Stay exausta, com sede, fome, e claro que o lugar não tem restaurante. Nem por perto! Mas tem máquina da coca-cola que vende minute-maid suco de laranja e uma do lado que vende chips, doritos, essas delícias ideais pra quem chega de uma jornada assim. Check in feito, entrei no quarto e olhei a hora. 6:08pm, o exato horário previsto para a chegada do Fernandinho no aeroporto de Boston.

Eu podia ter ficado no aeroporto e não ter essa história pra contar aqui. Eu teria preferido. Meus pés, pernas e braços ainda doem, mas vai passar. A lembrança do início dessa aventura nos EUA, essa eu duvido que passe.

Moral da história: uma viagem que começa com Ana Carolina, é isso aí…

Cenas do próximo capítulo:

Fernando chegou exausto de estar 24 horas em processo de viagem e fomos jantar na única opção próxima, que é o vizinho Westin. Por donde entramos, Jandirinha?

Caiu na rede é… zzzzzzzz…..

Há alguns dias, li, me diverti e me identifiquei com um post da Luciana Assunção sobre gente que tem facilidade para dormir em aviões. Ela tinha ido passar um feriado com a irmã em Buenos Aires e comentava que não consegue entender como é que tem gente que mal senta na poltrona e a cabeça já começa a cambalear pra um lado, pro outro, pra frente, e até gente que ronca, tão profundo o sono voador. Ela, que tem um certo medo de avião, não consegue.

A identificação foi imediata. Não é que eu não consiga dormir em avião, mas como boa aquariana e pessoa ansiosa que sou, dependendo do destino não tem Morfeu que me agarre nos braços. Um vôo Brasília-Rio, Rio-São Paulo, o outro destino doméstico em geral não me tiram o sono. Pelo contrário. Como sempre levo comigo alguma leitura para matar o tempo, basta começar aquele zunido das turbinas que o sono já vem vindo. A menos que seja uma viagem muito rápida, e se eu tiver dormido bem nos dias anteriores, a soneca é certa.

Agora, quanto mais distante e desconhecido o destino, mais longe também passa o sono. Da primeira vez que fui à Europa, Brasília-São Paulo-Amsterdam em 2006, quase não dormi durante o vôo. Assisti a todos os filmes possíveis, li, andei pelos corredores, tomei sorvete Hagen Daaz (KLM arrasa)… Dormir, que é bom, só depois que entrei na van que me levou, junto com outras participantes do mesmo evento, para a minúscula Egmond aan Zee. Eu estava tão esgotada que dormi profundamente e não pude contemplar os verdes campos de lá, cheios de vaquinhas malhadas. Em dado momento, escutei as várias latinas exclamarem um “ai que lindo!”. Acordei sobressaltada, olhei pela janela e disse em bom portugês: “olha, as baleias!”. Eram os para-quedas do povo que treinava kite-surfing, e eu jurei que as baleias voavam. Risinhos discretos ressoaram na van.

Egmond aan Zee - festival de kitesurfing

Outra situação inesquecível foi a viagem ao Vietnã, para participar de um congresso. Eu já vinha cansada de alguns dias, prévia de viagem é sempre assim, e o vôo era vespertino. De modo que acordei cedo pela manhã, dei conta de vários afazeres domésticos, preparei a casa para uma ausência de quas três semanas, rumei para o aeroporto. Doze horas e pouco até Paris, para uma conexão de mais doze horas. Nada de sono. Tentava, mas não conseguia dormir. Para piorar, não havia TV individual por poltrona, apenas monitores maiores por corredor. Assisti Marley e Eu, e não lembro mais o que. Tentei trabalhar, ler, mas a mulher que estava na poltrona da frente insistiu para que eu apagasse a luz de leitura, pois finalmente as três crianças que ela levava haviam dormido. Que raiva…

Com doze horas de conexão, eu não tinha por que ficar mofando aqui no Charles De Gaulle, de onde escrevo esse post, e fui dar uma volta pelo centro da cidade. Notre Damme, República, o Sena, Bastilha, um café aqui, um almoço ali… tudo isso com uma mochila pesadíssima nas costas. Pensei: não tem erro, vou dormir as próximas 12 horas de vôo até Hanoi. Nada. Nem assim. Chegando lá, contabilizei as horas sem dormir – foram nada menos que 50 (cin-quen-ta!) horas “no ar”, direto, sem desligar. Que raiva…

Retorno sem fim...

Mês passado fui à Tailândia e novamente assisti vários filmes durante as milhares de horas de vôo. Conexão em Dubai, significando 16 horas de vôo, sendo que a volta é mais longa porque vem contra o vento. Dubai-Bangkok é um trecho mais curto, de duas horas e meia – acho. Mas 17 horas dentro de um avião é dose pra leão, né não?

Pois agora estou indo realizar dois sonhos, um mais antigo – conhecer Istambul – e outro mais recente – participar de um Forum AWID. Passei as duas últimas semanas correndo como louca para dar conta dos compromissos e tarefas que precisavam estar prontas ANTES de viajar, e que não tem nada a ver com o que vou fazer em Istambul. Terminei o que precisava ficar pronto no sábado, quando comecei então a pensar na mala e afins – claro que esqueci luvas e protetores de orelha, e tá um frio danado. Só na sexta-feira é que fui conferir reserva em hotel, local da reunião, essas coisas. Claro que tinha problemas, mas consegui resolver. Mas toda a preparação das coisas que vou apresentar em Istambul ficaram para o avião – não durmo mesmo, certo?

ERRADO. Entrei no avião e simplesmente não consegui ficar acordada. Lu, lembrei tanto de você a cada vez que o pescoço doía e eu acordava pra mudar de posição! O bom é que a conexão dura 8 horas, então tá dando pra adiantar o trabalho.

Vai vendo…

Flor e Flora

– Oi.
– Seu pai tem boi?
– Tem não, babaca, tem vaca.
HAHAHAHAHAAHAHA

Por pouco mais de dois anos, esse diálogo foi algo corriqueiro de se escutar na minha casa, entre eu, meu filho, minha filha e o Pedro, melhor amigo de infância do meu irmão Zé, que tinha por mim uma paixonite de adolescência até os seus 13 anos, e que aos 23 veio passar um fim de semana na minha casa. Ficou esse período de pouco mais de dois anos, e só nos “separamos” porque mudei de cidade. Era tipo um casamento antigo: vivíamos sob o mesmo teto, dividíamos as tarefas domésticas e o cuidado com as crianças, mas não fazíamos sexo. Por isso, digo que Pedro é(ra) o meu “marido hétero”.

Não, ele não me converteu ao “heterossexualismo” – risos!! Mas foram dois doces anos que dividimos o mesmo apê e as mesmas crias, contas, empregada, louça… O que aprendi de mais marcante com Pedro? Amar grátis. Pedro gosta de espalhar amor feito bolinhas de sabão. Com ele aprendi a frase que um dia vou tatuar nas costas, igualzinho ele fez: “o mundo é bom porque é sortido”. Ele quer ter uma filha para poder chamá-la de um nome de flor. Violeta Matallo. Margarida Matallo. Rosa Matallo. Por enquanto, ele tem uma Flora, que não é Matallo no registro, é Mota. E quem precisa de registro civil quando o amor é mais?

O amor é mais, muito mais, no seio dessa família que junta Pedro Matallo com a mãe de Flora Mota, dona de uma voz particularmente linda e de uma tranquilidade de fazer parar maremoto. Luciana Oliveira estava preparando o Benjamim de Oliveira Matallo quando gravou esse clipe, que ela chama de Flor e Flora, e eu de “Amor Grátis”.

Deliciem-se.

Financiar o ódio é um mal negócio

Graças ao PayPal, enviar e receber dinheiro através de continentes e entre moedas nacionais é mais fácil do que nunca – mas o PayPal também é responsável por assegurar-se de que esta tecnologia não caia nas mãos erradas. Vários grupos extremistas, violentos e anti-LGBT estão usando o PayPal para arrecadar fundos a suas causas perigosas.

Promover “ódio, violência, [e] intolerância racial” não é apenas contra as regras do PayPal;  estes grupos de ódio também prejudicam a marca e a credibilidade da companhia.

Vamos pedir ao PayPal que se una à luta contra o ódio na internet e que feche imediatamente as contas de grupos extremistas anti-LGBT?

ASSINE AQUI.

Renda cresce mais entre as mulheres, em especial as da classe C

Seg, 12 de Setembro de 2011 14:44

(O Globo) Em 5 anos, rendimento da mulher subiu 30,8%, enquanto o dos homens avançou 22,7%. Na classe C, a renda das mulheres subiu 48,7%. Os dados são de pesquisa da consultoria Data Popular feita com exclusividade para O Globo. O levantamento evidenciou o lado feminino da nova classe média brasileira: as quase 53 milhões de mulheres da classe C detêm quase metade da renda feminina do Brasil.

Outro dado da consultoria é que as mulheres estão cada vez mais escolarizadas do que os homens. A participação delas nas universidades cresceu quase 60% nos últimos anos – contra 47,2% da presença deles nas faculdades do país. Na nova classe média, em cinco anos, aumentou em 65% a porcentagem de mulheres de classe C que já haviam cursado o ensino superior.

Segundo Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), a maior taxa de escolaridade, a queda da desigualdade e participação no mercado de trabalho explicam parte do avanço da renda das mulheres.

É importante destacar que, embora a distância entre a renda do homem e da mulher venha caindo, especialmente na classe C, ela ainda existe: na nova classe média, os homens ganham, em geral, 39% a mais do que elas; já na classe A, a diferença é de 58,9%.

Leia matéria na íntegra: Renda cresce mais entre as mulheres (O Globo – 12/09/2011)

Brasil: epicentro de assassinatos de LGBTs?

No dia 2 de março, uma câmera de segurança flagrou a execução brutal de Priscila, uma travesti de 22 anos, em Belo Horizonte, MG. Menos de 24 horas depois, outra travesti foi baleada na mesma cidade e na semana seguinte, mais uma foi assassinada em São Paulo, e seu corpo jogado num terreno abandonado.

Dono do maior índice de violência transfóbica do mundo, o Brasil registra uma explosão de homicídios de pessoas LGBT – mais de 250 no ano passado. O clima não é nada amigável para transexuais e travestis, lésbicas, gays e bissexuais no Brasil. À medida que essa violência brutal vai crescendo, vidas de LGBTs estão sendo literalmente ceifadas nas ruas do país que é considerado líder global na defesa dos direitos humanos e que tem no Rio de Janeiro o título de melhor destino gay do mundo.


Desde 2006, algumas lideranças no Senado tentam aprovar o Projeto de Lei da Câmara que puniria os crimes de ódio contra LGBTs e poria mais pressão nas polícias locais no sentido de proteger esta população. No entanto, devido a acordos estabelecidos durante a campanha presidencial, a presidente Dilma Roussef tem se omitido a esse respeito. Em nome de acordos políticos para garantir sua eleição, a presidente se afasta do prometido papel de “mãe do povo brasileiro”, e vem permitindo que continuem os ataques violentos por motivação transfóbica, lesbofóbica e homofóbica de que temos notícias todos os dias.

Se milhares de nós, no Brasil e no mundo inteiro, dedicarmos um momento de nossos dias para lembrar a vida roubada de Priscila e nos opusermos ao ódio contra transexuais, travestis e homossexuais, podemos influenciar a presidente Dilma a seguir o caminho da justiça e proteger pessoas como Priscila e tantas outras que diariamente arriscam suas vidas simplesmente ao colocar os pés fora de casa. Você dedicaria um instante para pedir à presidente Dilma que declare imediatamente seu apoio a esta lei que poderá salvar vidas? É uma pequena ação que poderá fazer uma enorme diferença:

www.allout.org/br/priscila

A batalha contra a transfobia, a lesbofobia e a homofobia no Brasil não se limita apenas ao poder legislativo. Um movimento contrário aos avanços conquistados por grupos que lutam pela igualdade de direitos espalha-se também pelas redes sociais. Em novembro de 2010, o termo “homofobia sim!” apareceu como um dos dez mais mencionados no Twitter no país, acompanhado por uma onda de mensagens de ódio, tais como “homossexuais são o câncer desse país” e “mate um viado, vamos fazer um favor a ele porque eles vão queimar de qualquer jeito”.

Quando este tipo de discurso violento toma as ruas, a imprensa rapidamente trata de lançar a culpa sobre a pessoa que sofreu o ataque, especialmente quando se tratam de mulheres transexuais e travestis como Priscila. Descrevem-nas como vítimas de um estilo de vida clandestino, associado a drogas e prostituição. Porém, o problema maior combina uma cultura e um sistema legal que sinalizam à população que atacar e até matar pessoas LGBT não é nada de mais – “deixa pra lá”. Apenas no último fim de semana, mais dois homicídios brutais ocorreram: uma travesti morreu baleada em São Paulo, e um homem gay foi esfaqueado e teve os olhos arrancados, aparentemente caracterizando mais um crime de ódio, no estado do Amazonas, região norte do Brasil.

A lei em tramitação no Senado não vai apagar a homofobia da sociedade, mas vai transmitir uma mensagem poderosa dizendo que LGBTs brasileiras e brasileiros são iguais a todas as pessoas diante da lei, merecem os mesmos direitos e proteções que todas as demais cidadãs e cidadãos do Brasil.

Você vai assinar esta carta à presidente Dilma pedindo que ela declare publicamente seu apoio à aprovação dessa medida desesperadamente necessária o mais rápido possível? Se alcançarmos 10 mil assinaturas, iremos com os demais grupos defensores dos direitos LGBT no Brasil entregar a carta diretamente à presidente Dilma.

www.allout.org/br/priscila

“Este foi um assassinato muito cruel, não podemos deixar que isso continue acontecendo”, disse (a) Anyky Gonçalvez de Lima, uma ativista travesti com o Centro de Luta Pela livre Orintação Sexual de Belo Horizonte/MG. Anyky lembra de como Priscila gostava de se divertir, de seu senso de humor. “Se não lutarmos contra isso, as meninas vão continuar morrendo”.

Assine agora, por Priscila e por brasileiras e brasileiros que lutam pelo direito de viver sem ataques de ódio.

Tudo de bom e vamos All Out!

Andre, Jeremy, Joseph, Prerna, Tile, Wesley e toda a equipe de All Out.
www.allout.org

All Out está juntando pessoas em todos os cantos do planeta e de todas as identidades – lésbicas, gays, heterossexuais, transgêneros e todas as variações possíveis entre essas e além – para construir um mundo onde todas as pessoas possam viver livremente e sejam acolhidas por serem quem são.

 

FONTES:

PLC122
http://www.senado.gov.br/atividade/materia/consulta.asp?Tipo_Cons=6&orderby=0&Flag=1&RAD_TIP=PLC&str_tipo=XXX&selAtivo=XXX&selInativo=XXX&radAtivo=S&txt_num=122&txt_ano=2006&btnSubmit=pesquisar

Travesti é morto com nove tiros na Afonso Pena
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2011/03/02/interna_gerais,212936/travesti-e-morto-com-nove-tiros-na-afonso-pena.shtml

Travesti assassinado no Morumbi II
http://www.urgencia190.com.br/noticias_detalhes.php?travesti-assassinado-no-morumbi-ii&ID=NTcz

Homophobic hate crimes spreading throughout Brazil
http://blog.amnestyusa.org/iar/homophobic-hates-crimes-spreading-throughout-brazil/

Número de assassinatos de gays no país cresceu 62% desde 2007, mas tema fica fora da campanha
http://oglobo.globo.com/pais/eleicoes2010/mat/2010/10/16/numero-de-assassinatos-de-gays-no-pais-cresceu-62-desde-2007-mas-tema-fica-fora-da-campanha-922804348.asp

Reported Deaths of 91 Murdered Trans Persons from November 20th 2009 to November 19th 2010
http://www.transrespect-transphobia.org/uploads/downloads/TMM/TvT-TMM-TDOR2010-Tables-en.pdf

Não Homofobia
http://www.naohomofobia.com.br/lei/index.php

Marta Suplicy acredita que novo Senado é favorável à lei anti-homofobia
http://www.dolado.com.br/noticias/marta-suplicy-acredita-que-novo-senado-e-favoravel-a-lei-anti-homofobia.html

“Governo Dilma: direitos humanos como foco”
http://dilma.pt/governo-dilma-direitos-humanos-como-foco

Você acha que não existe Homofobia? #HomofobiaNão #PL122Sim
http://www.youtube.com/watch?v=YG8EKh9RWXQ&feature=player_embedded#at=17

Foi por um triz

Este post foi corrigido em 03 de fevereiro de 2011.
A data da nova sessão para rever o pedido de asilo de Brenda Namigadde é 7 de fevereiro de 2011, segunda-feira.
Ainda há tempo de mandar seu recado para o governo da Inglaterra e salvar Brenda de perseguições, criminalização ou a morte por causa de sua orientação sexual.

Foi por um triz.

Os últimos dias de janeiro de 2011 testemunharam uma demonstração massiva de solidariedade global com Brenda Namigadde. Cidadã de Uganda, negra, lésbica, Brenda fugiu de seu país há 8 anos, depois de ter sua casa queimada, em apenas mais uma das inúmeras demonstrações de intolerância e violência que ela viveu durante sua vida. Fugiu para a Inglaterra, onde apresentou pedido de asilo baseado no compromisso do Reino Unido de abrigar pessoas que estejam sob ameaça em seus países por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero.

A solicitação de asilo foi negada a Brenda por um juiz que alegou não ter evidências suficientes de sua homossexualidade, já que a moça não possui e não tem o hábito de ler revistas sobre a temática LGBT. À medida que a história de Brenda vai se desdobrando, notícias alarmantes surgem a respeito de como os casos de exílio LGBT são processados de maneira aleatória e às vezes francamente ofensiva. Quanto mais cavamos, mais claro vai ficando que o sistema de proteção de pessoas sob perseguição está terrivelmente cheio de falhas e exige a nossa atenção.

A deportação estava confirmada para o dia 21 de janeiro de 2011, mas houve um erro na lista de passageiros e o embarque teve que ser adiado para o dia 28 do mesmo mês. A jornalista Melanie Nathan do site LezGetReal.com soube da notícia e começou uma mobilização para salvar Brenda da violência e perseguição certas caso voltasse ao seu país.

Com a viagem confirmada para a última sexta-feira (28/1), LezGetReal se juntou à LGBT Asylum News, AllOut.org, GetEqual.org e colocaram no ar uma carta pública endereçada à Secretária do Interior do Reino Unido pedindo que Brenda não fosse deportada. Em apenas três dias, quase 60 mil pessoas assinaram a carta numa movimentação grande demais para ser ignorada por qualquer autoridade britânica. Brenda já estava dentro do avião quando chegou a liminar suspendendo sua deportação.

Foi uma vitória de um movimento global jovem, bem informado, comprometido com a garantia de direitos iguais para pessoas LGBT e conectado via internet pelo mundo todo. O que assistimos foi, provavelmente, a inauguração formal de um novo modelo de mobilização política pelos direitos sexuais, com a característica muito particular dos tempos atuais: a mobilização instantânea.

Uganda é atualmente um dos países mais perigosos para lésbicas, gays, bissexuais e pessoas trans viverem, segundo classificação da ILGA. As relações sexuais entre homens é punível com até 10 anos de reclusão, e o sexo entre mulheres é considerado ilegal. Enquanto diversos países da América Latina e Europa estão aprovando leis de igualdade para pessoas LGBT e casais formados por pessoas do mesmo sexo, em Uganda tramita uma proposta de lei que institui pena de morte para homossexuais. O parlamentar Ugandense que está promovendo a Lei Anti-Gays (que prevê pena de morte para homossexuais) ligou diretamente para Melanie Nathan para criticar a “cobertura de péssima qualidade” que ela vem fazendo desse tema em seu site, deixando claro que está acompanhando passo a passo o caso de Brenda. Chegou a dizer que estava aguardando Brenda chegar a Campala para se desculpar e se “reformar”, ou seja, “curar” sua lesbianidade. Ou…

Há uma semana, o caso de Brenda era virtualmente desconhecido, e era certa a sua deportação para Uganda, onde o querido ativista pelos direitos LGBT David Kato foi brutalmente assassinado na última quarta-feira. Mas graças a você e mais de 60 mil outras pessoas que enviaram cartas, marcharam pelas ruas de Londres e compartilharam a história de Brenda, nós construímos um apelo internacional que fez barulho demais para que a Secretária do Interior da Inglaterra Theresa May e outras autoridades daquele país pudessem ignorar.

É uma história incrível, mas ainda não acabou…

No dia 7 de fevereiro, o pedido de exílio de Brenda será revisado – a corte decidirá de uma vez por todas se aprova ou nega autorização para que possa viver aberta e livremente na Inglaterra. A situação parece positiva, com muitas pessoas levantando a voz em seu apoio. Mas nós precisamos manter a pressão sobre Theresa May e o governo inglês para que cumpram a promessa de priorizar pedidos de exílio de pessoas LGBT.

Portanto, se você ainda não fez a sua parte, ainda é tempo. Por favor espalhe a história de Brenda pelo mundo afora e diga ao Departamento de Interior do Reino Unido que você se importa com Brenda.

Ninguém será livre até que todas as pessoas sejam livres.

http://www.allout.org/brenda/taf

CARTA ABERTA DO COLETIVO DE MULHERES DA ABGLT A SOCIEDADE SOBRE AS ELEIÇÕES 2010

Quando o processo eleitoral foi se desenhando e a possibilidade de duas mulheres concorrem a presidência da república do Brasil, todas nós mulheres tínhamos motivos para comemorar.Mas logo que o cenário se definiu entre os possíveis candidatos e candidatas, uma armadilha se mostrou, o uso da fé e da religião no palco eleitoral e infelizmente, uma mulher foi a protagonista.Marina Silva entrou para a disputa, usando a sua fé, a fé d@s eleitores e se mostrando contraproducente a sua história, de quem veio da floresta, de quem luta por um mundo sustentável, por um mundo melhor e por uma cultura de paz.E aí, nos questionamos nesse mundo cabe homofobia, machismo e sexismo? Senão cabe, porque usar @ eleit@r como escudo para decidir sobre assuntos de direitos humanos, por que tanta covardia?Enfim, o segundo turno veio e com ele, veio o aborto. Nos perguntamos, se fossem dois homens disputando o segundo turno, o aborto seria relevante? Ao se aproximar o dia 31 de outubro, o fundamentalismo avança e agora, os direitos civis de LGBT também estão em negociação. Que país é esse que negocia direitos humanos por fé?Nós do coletivo de mulheres feministas da ABGLT condenamos o uso da fé no processo eleitoral, o uso do aborto para desqualificar as mulheres e o uso da homofobia que mata todos os dias lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.Nós do coletivo de mulheres feministas da ABGLT condenamos aqueles e aquelas que não tem coragem de transformar o Brasil num país de todas e todos, num país onde mulheres não precisam mais ser assassinadas pelo machismo, onde mulheres não precisem viver a heterossexualidade compulsória e onde as mulheres possam ocupar os distintos espaços nas mesmas condições que os homens.Por uma sociedade justa, sem machismo, sem sexismo e sem homofobia!
Coletivo de Mulheres Feministas da ABGLT

Carta aberta da ABGLT as candidaturas de Dilma Roussef e José Serra

Prezada Dilma e Prezado Serra, A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT, é uma entidade que congrega 237 organizações da sociedade civil em todos Estados do Brasil. Tem como missão a promoção da cidadania e defesa dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, contribuindo para a construção de uma democracia sem quaisquer formas de discriminação, afirmando a livre orientação sexual e identidades de gênero. Assim sendo, nos dirigimos a ambas as candidaturas à Presidência da República para pedir respeito: respeito à democracia, respeito à cidadania de todos e de todas, respeito à diversidade sexual, respeito à pluralidade cultural e religiosa. Respeito aos direitos humanos e, principalmente, respeito à laicidade do Estado, à separação entre religião e esfera pública, e à garantia da divisão dos Poderes, de tal modo que o Executivo não interfira no Legislativo ou Judiciário, e vice-versa, conforme estabelece o artigo 2º da Constituição Federal: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” Nos últimos dias, temos assistido, perplexos, à instrumentalização de sentimentos religiosos e concepções moralistas na disputa eleitoral. Não é aceitável que o preconceito, o machismo e a homofobia sejam estimulados por discursos de alguns grupos fundamentalistas e ganhem espaço privilegiado em plena campanha presidencial. O Estado brasileiro é laico. O avanço da democracia brasileira é que tem nos permitido pautar, nos últimos anos, os direitos civis dos homossexuais e combater a homofobia. Também tem nos permitido realizar a promoção da autonomia das mulheres e combater o machismo, entre os demais avanços alcançados. O progresso não pode parar. Por isso, causa extrema preocupação constatar a tentativa de utilização da fé de milhões de brasileiros e brasileiras para influir no resultado das eleições presidenciais que vivenciamos. Nos últimos dias, ficou clara a inescrupulosa disposição de determinados grupos conservadores da sociedade a disseminar o ódio na política em nome de supostos valores religiosos. Não podemos aceitar esta tentativa de utilização do medo como orientador de nossos processos políticos. Não podemos aceitar que nosso processo eleitoral seja confundido com uma escolha de posicionamentos religiosos de candidatos e eleitores. Não podemos aceitar que estimulem o ódio entre nosso povo. O que o movimento LGBT e o movimento de mulheres defendem é apenas e tão somente o respeito à democracia, aos direitos civis, à autonomia individual. Queremos ter o direito à igualdade proclamada pela Constituição Federal, queremos ter nossos direitos civis, queremos o reconhecimento dos nossos direitos humanos. Nossa pauta passa, portanto, entre outras questões, pelo imediato reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo e pela criminalização da discriminação e da violência homofóbica. Cara Dilma e Caro Serra Por favor, voltem a conduzir o debate para o campo das ideias e do confronto programático, sem ataques pessoais, sem alimentar intrigas e boatos. Nós da ABGLT sabemos que o núcleo das diferenças entre vocês (e entre PT e PSDB) não está na defesa dos direitos da população LGBT ou na visão de que o aborto é um problema de saúde pública. Candidato Serra: o senhor, como ministro da saúde, implantou uma política progressista de combate à epidemia do HIV/Aids e normatizou o aborto legal no SUS. Aquele governo federal que o senhor integrou também elaborou os Programas Nacionais de Direitos Humanos I e II, que já contemplavam questões dos direitos humanos das pessoas LGBT. Como prefeito e governador, o senhor criou as Coordenadorias da Diversidade Sexual, esteve na Parada LGBT de São Paulo e apoiou diversas iniciativas em favor da população LGBT. Candidata Dilma: a senhora ajudou a coordenar o governo que mais fez pela população LGBT, que criou o programa Brasil sem Homofobia, e o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, com diversas ações. A senhora assinou, junto com o presidente Lula, o decreto de Convocação da I Conferência LGBT do mundo. A senhora já disse, inúmeras vezes, que o aborto é uma questão de saúde pública e não uma questão de polícia. Portanto, candidatos, não maculem suas biografias e trajetórias. Não neguem seu passado de luta contra o obscurantismo. A ABGLT acredita na democracia, e num país onde caibam todos seus 190 milhões de habitantes e não apenas a parcela que quer impor suas ideias baseadas numa única visão de mundo. Vivemos num país da diversidade e da pluralidade. É hora de retomar o debate de propostas para políticas de governo e de Estado, que possam contribuir para o avanço da nação brasileira, incluindo a segurança pública, a educação, a saúde, a cultura, o emprego, a distribuição de renda, a economia, o acesso a políticas públicas para todos e todas! Eleições 2010, segundo turno, em 15 de outubro de 2010. ABGLT – Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais